A sessão mensal aberta do Panathlon Clube de Lisboa decorreu, no dia 20 de abril, com o debate Desporto Sem Bullying, tendo como oradores os professores Carlos Neto e Miguel Nery. A ocasião constituiu uma oportunidade para lançar o alerta para uma realidade que afeta negativamente muitos jovens atletas, vítimas de agressão física ou psicológica no contexto desportivo.
Depois do habitual jantar dos sócios do Panathlon Clube de Lisboa, a Sala dos troféus do Ginásio Clube Português foi o cenário para a apresentação de uma campanha em pacotes de açúcar da Delta Cafés, da autoria do designer Fernando Ferreira, em prol do fair play no desporto, e para mais um debate mensal. Os professores Carlos Neto e Miguel Nery, introduzidos pelo presidente do PCL, Manuel Brito, apresentaram os resultados de um estudo nacional que expõe uma realidade preocupante: a do exercício de bullying sobre jovens desportistas mais vulneráveis.
Carlos Neto, que há 47 anos iniciou a atividade docente no então INEF – Instituto Nacional de Educação Física, hoje Faculdade de Motricidade Humana, e especialista na área da motricidade infantil, coordenou uma equipa desta faculdade visando o levantamento da prática de bullying no meio desportivo e a posterior proposta de adoção de medidas para prevenção dessa prática e de outros comportamentos negativos associados.
Os dados para o trabalho desta equipa baseiam-se no estudo desenvolvido pelo psicólogo clínico Miguel Nery que, após cinco anos de pesquisa no terreno (isto é, no meio desportivo), apresentou recentemente a sua tese de doutoramento intitulada “Bullying no contexto da formação desportiva em Portugal”. Os dados desse “estudo exploratório” resultam de um levantamento efetuado entre 1500 atletas de diversas modalidades coletivas, indicando que 10% dos jovens praticantes de desporto são vítimas daqueles comportamentos violentos e intimidatórios, praticados por 11,2 % dos seus colegas (e também por alguns dirigentes, treinadores e outros agentes desportivos), perante a presença indiferente ou não interveniente de outros 35%.
“Não se trata de um fenómeno de violência isolada, mas de um ciclo de agressão entre pares, de forma continuada”, explicou Miguel Nery. O investigador constatou que as vítimas são jovens que apresentam vulnerabilidades ou são portadores de marcas diferenciadoras de âmbito cultural, racial, sexual, mental ou físico. Preocupante é também a postura de treinadores e dirigentes, que permitem estas ocorrências que assumem com naturalidade como “normais”, constatando-se que os treinadores masculinos têm maior propensão para este tipo de tolerância. Não obstante, a realidade parece indicar que o bullying adquire proporções ainda mais preocupantes em contexto escolar, comparativamente com o que ocorre no desporto. O professor Carlos Neto propõe contrariar este tipo de comportamentos não só com o reforço legislativo mas também com a criação de estruturas de apoio oficiais e a formação dos treinadores e outros agentes desportivos nesta área. “É preciso fazer um mergulho na realidade”, adverte, garantindo que ainda “há muito trabalho por fazer nas escolas, nos pátios, nos recintos e nos balneários”.
Como habitualmente, o período de perguntas e respostas foi bastante participado, contando com mais de uma dezena de intervenções, algumas reportando experiências vividas no meio desportivo bem ilustrativas desta realidade. Para a sala, foi lançada a ideia de voltar a ser proposta a existência de um “provedor do atleta em cada clube”.
No final, o presidente do Panathlon Clube de Lisboa, Manuel Brito, sintetizou as intervenções na sessão nos seguintes termos: “na escola, estão os professores formados para as questões técnicas e não para o que se passa nos pátios; nos clubes, os treinadores e dirigentes ignoram a realidade dos balneários; no final, o bullying afasta os jovens do desporto”. Esta é “uma matéria que entra no âmbito da ética desportiva e que exige formação adequada”, concluiu Manuel Brito.
Como é prática nas sessões mensais, os oradores convidados foram obsequiados com a outorga de um diploma de participação nesta atividade do Panathlon Clube de Lisboa.
Vídeo – Desporto Sem Bullying:
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