Decorreu, no dia 18 de maio, nas instalações do Ginásio Clube Português, mais uma das sessões mensais promovidas pelo Panathlon Clube de Lisboa, tendo como convidado o professor Sidónio Serpa, que veio falar sobre um tema de grande interesse: o impacto psicológico do comportamento dos pais nos jovens atletas.
Após o habitual jantar dos sócios do clube, a Sala dos Troféus do Ginásio Clube Português acolheu quatro dezenas de pessoas ligadas à comunidade desportiva para ouvirem o professor Sidónio Serpa, da Faculdade de Motricidade Humana, onde rege a cadeira de Psicologia do Desporto. Coube a Manuel Brito, presidente do Panathlon Clube de Lisboa, apresentar o seu antigo docente, que é atualmente presidente da Sociedade Portuguesa de Psicologia Desportiva e secretário geral da International Society of Sport Psicology.
Partindo da consensual constatação de que “os pais são modelos para os filhos”, o académico e ex-treinador dedicou-se a investigar o modo como o comportamento dos pais condiciona o desempenho dos jovens atletas, partindo de casos de estudo exemplares na alta competição. Assim, referiu os nomes de Michael Phelps, recordista de medalhas olímpicas de natação e que sofreu de depressão devido à forma intensiva como foi obrigado pelo pai a treinar desde a infância; do tenista Andre Agassi, cujo pai determinou o desenvolvimento da sua carreira para ser o número um do ranking mundial, para obter retorno financeiro, e que, após perder a forma e o interesse pela modalidade a ela voltou com o objetivo maior de angariar fundos para a sua fundação em prol de crianças desfavorecidas; ou o saltador de prancha Greg Louganis, oprimido pelo pai mas amado pela mãe e que, após um aparatoso acidente que quase lhe custou a vida, viria a conseguir a medalha de ouro olímpica evocando o exemplo materno.
Aos exemplos de pais negativos na formação atlética dos filhos, Sidónio Serpa contrapõe o apoio incondicional de pais que evitam pressionar os filhos, antes lhes servindo de suporte económico e sócio-emocional, como aconteceu com o atleta dos 400 metros Derek Redmond, cujo pai preferiu suportar o filho, preservando a sua integridade física numa final em que se lesionou, ou Cristiano Ronaldo, que obteve sempre apoio financeiro da família carenciada quando veio para a escola de um grande clube de futebol.
Para o professor da Faculdade de Motricidade Humana, aos fatores genéticos somam-se os do ambiente cultural no desenvolvimento dos jovens atletas, como o parece provar o exemplo da ginasta campeã Evgenia Kanaeva, filha de atletas russos de alta competição e criada em ambiente cultural favorável. A partir dos estudos sobre a matéria que conhece, Sidónio Serpa acredita que, na fase de iniciação desportiva, a partilha pelos pais do entusiasmo dos filhos, o seu interesse pela modalidade e um apoio isento de pressão são as formas saudáveis do jovem prosseguir na prática. Na fase de desenvolvimento, pais saudavelmente empenhados fazem sacrifícios e investem financeiramente nos filhos mas promovendo para eles, em paralelo, uma vida independente do desporto. Na alta competição, este tipo de pais procura não interferir na vida desportiva dos filhos, mas mantendo presente a disponibilidade para os apoiar financeira e psicologicamente. Crianças com este tipo de pais desempenhando um papel positivo, constata Sidónio Serpa, virão posteriormente a obter maior sucesso desportivo do que aqueles cujos pais interferiam, pressionavam, obrigavam e castigavam – levando muitas vezes ao abandono da prática desportiva.
No período de debate que se seguiu, uma dezena de intervenientes questionou o papel excessivo de muitos pais, bem como o impacto de responsáveis e comentadores nos media que influenciam negativamente a socialização dos jovens desportistas e dos seus pais, com apelos à competição agressiva. Alguns intervenientes propuseram o desenvolvimento de uma campanha de sensibilização sobre esta matéria, posto que, como constata Sidónio Serpa, “é difícil fazer chegar estas mensagens aos pais, condicionados com o que ouvem na televisão, e os estudos ficam muitas vezes no papel”. O investigador concluiu que a aculturação e envolvimento sócio emocional dos pais é importante no comportamento dos filhos e que afastar os pais com comportamentos negativos da prática dos filhos pode atirá-los para uma posição contra o desporto, embora admita que tal “às vezes pode ser preciso”, sendo que “o ideal é envolve-los nos valores que influenciam positivamente”.
Como habitualmente, antes da outorga do certificado de participação nestas sessões ao orador, o presidente do Panathlon Clube de Lisboa, Manuel Brito, encerrou a sessão fazendo o seguinte balanço: “os pais devem estar presentes na formação dos filhos”, pese embora sejam influenciados pela “incultura desportiva e incivilidade dos que falam sobre desporto”, como é o caso do “efeito da linguagem e do comportamento nos media, que afeta negativamente o comportamento dos pais com filhos na competição”. Para Manuel Brito, a criação de “escolinhas” de modalidades desportivas, a exemplo de algumas orquestras de crianças e jovens (a cuja criação esteve ligado) pode ser uma via para vivenciar positivamente o desporto com valores, isto é, com desportivismo.
Vídeo da Sessão Mensal:
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