A sessão mensal do mês de junho do Panathlon Clube de Lisboa decorreu no dia 22, nas instalações do Ginásio Clube Português, tendo como orador convidado o arquiteto João Paulo Bessa para falar sobre “Política desportiva: o caso dos equipamentos desportivos”.
Com uma longa experiência nesta área, o antigo jogador, treinador e selecionador de rugby foi vice presidente do Instituto do desporto de Portugal, dirigente do Conselho Superior de Desporto e da Confederação de Treinadores de Portugal, tendo sido recentemente agraciado pela Câmara Municipal de Lisboa com a Medalha Municipal de Mérito Desportivo. Enquanto coordenador nacional do Quadro Comunitário de Apoio III – Medida Desporto, João Paulo Bessa foi responsável pela criação de inúmeras infraestruturas desportivas no país, incluindo a adaptação ou construção dos estádios municipais de futebol para o Euro 2004.
Após o jantar que mensalmente reúne em convívio os sócios do clube, Manuel Brito, presidente do Panathlon Clube de Lisboa, apresentou o orador e introduziu a pertinência do tema, recordando – com a sua experiência enquanto vereador do Desporto na Câmara Municipal de Lisboa, felizmente com sucesso – a dificuldade que consiste em conciliar a oferta de infraestruturas desportivas com as orientações dos Planos Diretores Municipais, bem como a ignorância de muitos decisores políticos em matéria de rigor na oferta de infraestruturas desportivas adequadas às necessidades.
Para João Paulo Bessa, as infraestruturas desportivas (termo que prefere, por clareza de conceito, em desfavor da expressão “equipamentos”) devem ser instalações especialmente vocacionadas para “proporcionar aos atletas a prática do desporto em boas condições”. Para o especialista, a “falta de conhecimento” de muitos autarcas tem sido um obstáculo, dada a sua inexperiência e falta de rigor para se decidir o que se pretende, recordando que a medida ideal proposta pelo Conselho da Europa de 4 metros quadrados por habitante deve adaptar-se as realidades regionais, levando em conta fatores geográficos para aferir as verdadeiras necessidades em função das atividades desportivas efetivamente praticadas e do potencial número de utentes.
Deste modo, devem-se precaver fatores críticos que podem fazer disparar os custos de modo desproporcional às necessidades, racionalizando e optimizando a oferta em função destas. Não se trata apenas de custos com terrenos e construção, mas também os custos operacionais, de manutenção e de energia, alertou o arquiteto. Para o efeito, devem-se aferir os verdadeiros objetivos para estabelecer os requisitos de uma obra desta envergadura, tais como:
– os que se prendem com a segurança (incluindo as condições para receber espectadores e a oferta de serviços adequados nessas instalações);
– saber estabelecer um cronograma desde a fixação de um programa até à concretização da obra, passando pela elaboração do projeto, para que a introdução de alterações não surja tardiamente com custos associados;
– a racionalização do número de balneários em função da cadência das atividades (o número de balneários deve ser duas vezes o número das utilizações em simultâneo para evitar “tempos mortos” e consequente desaproveitamento);
– as piscinas, para além da questão vital do reaproveitamento das águas (tal como deveria acontecer com as águas de rega dos relvados), devem reduzir o volume da construção envolvente (a nave deverá ter menor pé direito do que é habitual e haver separação física do espaço para espectadores), posto que o custo de tratamento do metro quadrado do ar no interior destas instalações é quatro vezes superior ao da própria água dos tanques;
– a escolha dos pavimentos, que vem ser adequados ao tipo ou modalidade desportiva, pois esta é a “componente mais importante” nesta matéria;
– e, finalmente, ter em conta a orientação da infraestrutura em funçãoo da exposição solar e da direção dos ventos predominantes, sobretudo quando se trata de situações ao ar livre.
No participado período de debate que se seguiu, com perguntas e respostas, surgiu o consenso de que a atual configuração política para enquadrar o Desporto (no Ministério da Educação, através do Instituto Português do Desporto e da Juventude) – com a consequente descida de nível de Departamento para Divisão do organismo que deveria tutelar a construção das infraestruturas – não serve os desígnios do Desporto nacional, situação fortemente verberada pelo presidente do clube, Manuel Brito. Na mesma linha, lamentou-se o desinvestimento nesta área, onde a falta de renovação de quadros determina a quebra na transmissão de conhecimento adquirido pela experiência dos que se vão retirando, a falta de parecer obrigatório desta entidade no licenciamento das infraestruturas pelos municípios e a desadequação desta oferta à realidade da evolução demográfica no país.
Encerrando a sessão, Manuel Brito recordou algumas das suas experiências (nomeadamente, os programas para a reabilitação das piscinas municipais em Lisboa ou os programas para o Euro 2004), criticando a menorização do Desporto e a falta de poder decisório dos políticos, por falta de conhecimento ou vontade. Como habitualmente, o presidente do clube ofereceu ao orador convidado um diploma de participação nestas sessões e um emblema do clube.
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