Depois do habitual jantar dos sócios do Panathlon Clube de Lisboa, decorreu, no dia 21 de setembro, nas instalações do Ginásio Clube Português, mais uma sessão mensal de palestra e debate aberta a todos os interessados, sob o tema “A disciplina curricular de Educação Física: situação atual e perspetivas de desenvolvimento”, sendo oradores convidados os professores José Alves Diniz e Nuno Ferro.

Como habitualmente, coube ao presidente do PCL, professor Manuel Brito, apresentar os convidados desta sessão: o Prof. Doutor José Alves Diniz, presidente da Faculdade de Motricidade Humana, e o Dr. Nuno Ferro, presidente da Sociedade Portuguesa de Educação Física. Na ocasião, introduzindo o tema do debate, Manuel Brito defendeu que os estudantes das faculdades de medicina “deveriam ter uma disciplina que os ensinasse sobre os benefícios do exercício físico”.

Para José Alves Diniz, “proporcionar às crianças estímulo físico resulta em melhores resultados cognitivos” durante o processo de aprendizagem nas escolas, como apontam diversos estudos científicos. Segundo este investigador, “os comportamentos e estilos de vida estão na base do potencial de saúde das populações” e os erros alimentares associados à falta de atividade física favorecem a emergência de jovens obesos, com todo o potencial para o surgimento de doenças na vida adulta. Assim, o atual estilo de vida, que “desincentiva a atividade física”, ao ponto de dois terços da população portuguesa não praticar os níveis indicados dessa atividade, “reduz a sua eficácia na prevenção de doenças”.

O presidente da FMH sublinhou a importância dos hábitos da prática da atividade física desde a infância e a adolescência, pois “esses hábitos tendem a ser mantidos ao longo da vida”. Estando as crianças e os jovens na escola, “é na escola que deve ser estimulada a atividade física” e uma disciplina como a Educação Física “promove estilos de vida saudáveis” e previne a “perda do gosto pelas atividades motoras e doenças decorrentes da inação”, concluiu José Alves Diniz.

Por seu lado, Nuno Ferro, discorreu sobre “Os desafios da Educação Física no século XXI”, começando por constatar que ainda hoje sobrelevam concepções de educação física que datam do século XIX, “desajustados da vida atual”. Para este investigador, com o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, é necessário levar até ao final do ensino secundário o conceito, já aplicável nos anteriores níveis de ensino, os conceitos que decorrem de demonstrações científicas segundo as quais “os alunos que desenvolvem competências e não se limitam a adquirir conhecimentos adquirem maior capacitação nas diversas áreas”.

Para Nuno Ferro, é através da Educação Física – sendo a única disciplina a par do Português a acompanhar toda a escolaridade obrigatória, do pré-escolar ao 12º ano – que se pode “desenvolver da melhor maneira a capacidade física”, perdida fora da escola com o atual estilo de vida. Na sua perspectiva, existem motivos para algum otimismo já que em Portugal “estamos muito à frente em termos conceptuais sobre o que deve ser a Educação Física nos programas curriculares” e, pese a “insuficiência de horas semanais e a não contabilização da disciplina na avaliação dos alunos”. Sinal positivo é a introdução no passado ano letivo de uma prova de aferição de Educação Física no 2º ano, a repetir anualmente, e que terá continuidade, já este ano, ao nível do 8º ano.

O debate que se segui foi, como é apanágio destas sessões do Panathlon Clube de Lisboa, muito participado e animado, sucedendo intervenções de pessoas ligadas ao Desporto e ao ensino da Educação Física. A encerrar a sessão, o presidente do PCL, Manuel Brito, reportando as insuficiências da Educação Física nas nossas escolas que nesta noite foram sendo referidas, sintetizou o estado atual da disciplina curricular concluindo que “as questões relativas ao corpo são subalternizadas pelos nossos políticos e decisores”