Manuel Brito, presidente do Panathlon Clube de Lisboa, foi o orador na última sessão mensal, que decorreu no dia 18 de outubro, no Ginásio Clube Português. “A função social do Desporto é integrar a diversidade, aproximar os cidadãos; o Desporto é uma escola de cidadania”, afirmou Manuel Brito, dissertando, precisamente, sobre o tema “Desporto e Cidadania”
Depois do habitual jantar dos sócios do PCL, a Sala dos Troféus do Ginásio Clube Português encheu para ouvir Manuel Brito, destacando-se a presença dos presidente e vice-presidente do Instituto Português da Juventude e Desporto, Vítor Pataco e Sónia Paixão, e do presidente do Comité Olímpico da Guiné-Bissau, Sérgio Mané.
Coube ao antigo presidente e fundador do clube, general Rodolfo Begonha, apresentar o orador e o seu vastíssimo currículo: licenciado em Educação Física e mestre em Ciências da Educação, professor aposentado, é membro do Conselho Científico da Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona, presidente do Conselho de Ética do Comité Olímpico de Portugal, membro do Conselho Nacional do Desporto e comissário na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, tendo exercido os cargos de presidente do Instituto Nacional do Desporto, do Conselho para a Ética e Segurança no Desporto, do Conselho Nacional Antidopagem e do Conselho Nacional Contra a Violência no Desporto, bem como os de vice-presidente do Comité Olímpico de Portugal, da Fédération International d’Éducation Physique, e da International Schoolsport Federation e de diretor do Gabinete Coordenador do Desporto Escolar; entre outras funções no âmbito associativo e autárquico, destaca-se a de vereador na Câmara Municipal de Lisboa com os pelouros do Desporto, da Educação e Juventude e da Proteção Civil e Regimento de Sapadores Bombeiros.
“Sou um europeísta e um olimpista”, começou por declarar Manuel Brito, que defendeu ser o Desporto “uma construção social”, por via da instituição da regra – o garante a passagem das formas elementares do jogo ao estádio de fenómeno desportivo – e que faz dele um “fenómeno social total”, para usar a terminologia sociológica e antropológica de Marcel Mauss. A clarificação da terminologia utilizada foi, aliás, uma das preocupações do orador, por forma a que o tema possa ser discutido com rigor. Assim, foram passados em revista os conceitos de Motricidade Humana, Atividade Física (orientada), Cultura Física / Cultura Corporal, Educação Física, Desporto Escolar / Desporto na Escola, Desporto na Idade escolar, entre outros. O conceito de Desporto fixou-se na definição de Pierre Parlebas segundo a qual se trata de um “conjunto de situações motoras codificadas e institucionalizadas”.
Manuel Brito verberou a tendência de reduzir e legitimar o Desporto como uma prática visando objetivos de Saúde, esquecendo as suas componentes sociais e culturais. A regra, ao instituir valores de justiça, tolerância, respeito mútuo, solidariedade, espírito de equipa e autodisciplina, promove coesão social e valores da sociedade, sendo um importante motor económico. Não se estranha, assim, que o Desporto tenha sido uma escola de virtudes democráticas, com os clubes e as associações a promoverem eleições (mesmo em regimes de ditadura), responsabilidade, voluntariado e coesão. Neste âmbito, o desporto, através da instituição da regra, promove ativamente a cidadania, incutindo os valores da solidariedade, da responsabilidade, da igualdade civil e política e da pertença à comunidade, com os seus direitos e deveres.
No final da intervenção, um participado debate apontou diversas insuficiências na política desportiva que vem sendo seguida em Portugal nas últimas décadas, nomeadamente, “a falta de visão global do que deve ser o Desporto”, a “ausência de uma estratégia desportiva nacional”, a desatualização da “Carta Desportiva Nacional” (que já tem duas décadas) e a “subestimação política do Desporto” (que carece de representação governamental própria). Para Manuel Brito, “a falta de equidade no tratamento destas questões é um problema maior da política portuguesa”.
Encerrando esta sessão do Panathlon Clube de Lisboa onde, uma vez mais, “tudo se debate livremente”, o presidente do clube viu invertidas as posições, sendo ele próprio a quem foi outorgado o certificado de participação como orador, que recebeu das mãos do general Rodolfo Begonha.
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